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AUTOCONHECIMENTO EVAPORA EM PERÍODOS DE INTENSA MUDANÇA NA VIDA

Adolescentes e adultos na faixa dos 40 anos estão mais sujeitos a sofrer com dúvidas sobre a própria personalidade

Por: Caroline Deina de Farias, Cristielle da Silva Barbosa e Sarah Jennifer da Silva de Lima

Ansiedade, desânimo, cansaço mental, isolamento, baixa autoestima estão entre os sintomas apresentados pelas pessoas que vivem com crise de identidade, também chamada de crise existencial. O distúrbio pode ser observado em qualquer fase da vida, mas, de acordo com a psicóloga Daniela Knapp, torna-se mais presentes na adolescência e em mulheres e homens da faixa de 40 anos.

O motivo, segundo ela, é que essas fases são momentos em que "a pessoa traz consigo muito questionamentos em relação ao que se é e também avalia a própria expectativa em relação ao que se quer ou que se queira ser". Embora gerem desconforto, esses períodos de crise não devem ser vistos como ruins, pois, em muitas ocasiões, "eles são necessários para se construir o próprio eu e a própria identidade", afirma a psicóloga. 

 

Contudo, os limites da normalidade podem ser extrapolados, dependendo da gravidade de cada caso. Baseada em estudos e em na experiência da própria carreira, a profissional menciona que a maioria dos casos atendidos no consultório contemplam, em algum grau, certa crise existencial, mas que, também, existem os casos extremos, que podem levar a pessoa a desenvolver depressão, ataque de pânico, bulimia e anorexia, entre outras patologias. Por isso, Daniela destaca que as crises mais graves devem ser encaradas como patologia.  

Apesar de todas as pessoas estarem sujeitas à crise existencial em alguma idade, como uma fase natural na construção da personalidade, algumas situações difíceis, como perda de um ente querido, demissão do trabalho e separação, podem desencadear com mais facilidade esse problema.

Todo comportamento que traz algum prejuízo no dia a dia, conforme a psicóloga, deve ser analisado, como problemas de relacionamento, descontrole, ansiedade e tristeza. "Se a crise de identidade está prejudicando de alguma forma o cotidiano da pessoa, então ela deve buscar a ajuda de um especialista", aponta.

Patologia: jovem fica obcecada por personagem de desenho japonês

A estudante Natália Saito, 25 anos, está entre as pessoas cuja crise se tornou patológica. No caso dela, a fixação por animes e mangás se tornou excessiva e trouxe complicações.

Por ser descendente de japoneses, ela sempre se interessou pela cultura nipônica. Foi assim que, aos 16 anos, encantou-se pelo desenho Naruto. "Eu assistia ao desenho todos os dias e amava a personagem Sakura, por representar uma mulher forte no meio de tantos homens", relata.

Aos 18 anos, a simples identificação virou um problema. Natália começou a incorporar algumas características de Sakura para a própria personalidade. A jovem pintou o cabelo de rosa, adotou características da personagem em suas redes sociais, usava apenas roupas que tivessem ligação com o desenho, e substituiu a língua portuguesa pela japonesa.

Ela afirma que traços positivos, como independência e autoestima elevada, foram substituídos por personalidade forte, fixação amorosa e agressividade. "Eu me sentia insegura, irritada e depressiva o tempo todo. Foi aí que o meu namorado começou a me deixar aos poucos, porque não estava só me afetando, mas afetando todos que estavam ao meu redor", conta.

As consequências da mudança influenciaram diretamente foram graves: provocaram demissão no trabalho e afetaram a convivência familiar, principalmente com o pai, que não aceitava o novo estilo de vida. 

Atualmente, ela faz tratamentos focados no autoconhecimento, a fim de desenvolver a personalidade própria. Ela também gerencia um grupo de admiradores de animes, que promovem eventos cosplay - prática em que fãs se vestem como as personagens que admiram. Nesse projeto, ela compartilha a experiência própria, para que os jovens não corram o risco de viver a crise de identidade em níveis patológicos, como ela mesma.

Prática de cosplay deve ser feita com cuidado, dizem especialistas

Por ser muito comum no encontro entre a idade infantil e adulta, a crise de identidade na adolescência é vista pela doutora em Psicanálise Juliana Radaelli como um processo de construção importante da personalidade dos jovens, que exige cuidados. Ela destaca certas práticas como principais causadoras da crise, como o cosplay, por representar uma tentativa de manter os jovens "infantilizados".

A psicóloga Daniela Knapp busca estabelecer os limites entre o cosplay como uma prática saudável e como uma atividade doentia. "Enquanto se vestir de um personagem for uma brincadeira sadia e temporária, não existe problema nenhum". Por outro lado, ela afirma que, quando a pessoa começa a assumir a identidade de um personagem com algum tipo de prejuízo emocional ou na relação com o outro, deve-se buscar ajuda.

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