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AS MARCAS DE 29 DE ABRIL

Professor vítima de violência carrega traumas de 29 de Abril

Por Letícia Garib Machado

 

Em 29 de abril de 2015, aconteceu um confronto entre professores do Paraná e policiais militares, comandados pelo governo do estado, que ainda deixa marcas nos educadores. Os professores estavam em greve há quatro dias e brigavam contra a reestruturação da Paraná Previdência, fundo previdenciário responsável por pagar a aposentadoria dos servidores públicos do Paraná.

 

Em outubro de 2016, após o descumprimento do acordo que cessou a greve de 2015, os professores retomaram a paralisação. O professor Marcos Lucas Gomes participou dos movimentos, conta que carrega traumas e relembra a história. Confira, abaixo, o perfil do educador.

 

Ao completar o Ensino Médio, que cursou em paralelo com um curso técnico em contabilidade, foi que Marcos Lucas Gomes percebeu que não era aquilo que queria para a própria vida vida. O que ele fez? Voltou ao Ensino Médio. Desta vez, com outro objetivo: tornar-se professor de Matemática. E ele conseguiu: Passou pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde cursou 70% da sua graduação, e a completou na Uniandrade. Atualmente, faz pós-graduação em Educação.

Anos se passaram após a formatura da graduação, até que algo inesperado aconteceu. O clima era tenso, a greve durava apenas quatro dias – havia começado no sábado, 25 de abril. Os professores se levantaram pela manhã para mais um dia de protestos, sem esperar o que estava por vir.

Gomes era um desses professores que, a partir daquele dia, nunca mais esquecerão a data 29 de abril. Foi um dia marcado por intenso confronto: a Polícia Militar, cumprindo ordens do Governo do Estado, contra professores da rede estadual de ensino. Balas de borracha e bombas de efeito moral foram usados contra cartazes e gritos revoltados.

Muitos professores saíram feridos, física e emocionalmente, inclusive Marcos. "Levei um tiro de bala de borracha no ombro e um de raspão na mão, também. Eu estava na frente do movimento", conta.

"Sou totalmente a favor da greve. Eu participei dos movimentos porque acho que é a única forma que nós temos, não para conquistar, mas manter alguns direitos que a gente têm. Eu acredito que, se eu quero comentar, quero criticar e quero falar, eu tenho que estar participando. Então, sempre que tem um movimento, sou um dos que provoca essa discussão entre os professores na escola, para a gente tirar um posicionamento", conta. "E eu participei bastante ativamente. Participei de todos os dias de greve: fui no 29 de abril e participei da ocupação da Assembleia Legislativa, quando a gente pediu pela primeira vez a votação daquele pacote do governador".

Mas essas lutas constantes têm abalado o emocionalmente. "Eu vou ser sincero contigo: às vezes, a gente chega em casa e pensa: ‘Poxa, eu podia estar na iniciativa privada fazendo qualquer outra coisa, poderia estar financeiramente até melhor recompensado’, e isso nos abate. Chego a pensar, não em desistir, mas em outras alternativas até para sobreviver financeiramente".

O professor de Matemática conta que decidiu se tornar professor porque entendeu que a educação é importante e precisava achar caminhos para ela. Hoje, pensando em seus dois filhos, o professor reflete: "Se todo mundo pensar em desistir, que mundo será que eu vou deixar para eles? Na pior das hipóteses, eu quero deixar a história de que eu lutei o máximo que eu pude".

O professor Marcos também apoiou as ocupações nas escolas estaduais. "Desde que eu me entendo por gente, este é o fato mais lindo que eu já vi acontecer no nosso país". Ele acredita que, a partir de agora, os governantes terão de repensar estratégias.

Para Gomes, a função de um professor na sala de aula não é impor seus ideais para os alunos, porque isso seria um crime. Mas é provocar reflexão para que os alunos pensem por conta própria e exponham sua opinião. "A educação é o que faz a pessoa crescer. Uma pessoa que é educada de uma maneira bitolada, que não é permitido pensar, não é permitido questionar e não é permitido expressar suas opiniões, vai se tornar uma pessoa reprimida e facilmente dominada".

Apesar do episódio triste, educador não pensa em abandonar a carreira e segue dando aulas no ensino público

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