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DIA A DIA NA OCUPAÇÃO

Escolas ocupadas tinham

rotina disciplinada e regras rígidas

Estudantes do Colégio Estadual do Paraná contam como foi passar um mês ocupando a unidade

Por Heloisa Masetto

 

Eles não querem proximidade com partidos políticos nem com os que se proclamam representantes da classe estudantil. Recusam divisões de tarefas conforme antigos ou tradicionais padrões de gênero, do tipo homem x mulher, e prezam por um sistema de organização interna com regras próprias e bem definidas em que o foco seja a coletividade.

A série "Ensino em ebulição" conversou com alunos e apoiadores da ocupação no Colégio Estadual do Paraná (CEP) para conhecer a rotina organizada pelos alunos.

O estudante Gabriel Dantas*, 16 anos, conta que, no início, alguns colégios não sabiam como iriam se organizar, por isso buscaram orientação em escolas já ocupadas. Assim, o protagonismo do CEP, ocupado desde 6 de outubro, serviu de exemplo para vários outros estudantes no estado.

Com a agenda cheia, eles se dividiram em equipes de tarefas, definidas por fitas coloridas amarradas nos braços. Cada tipo de fita representava uma das sete equipes criadas: alimentação, livre acesso, comunicação, agenda, saúde, limpeza e segurança.

A sala da comunicação era onde os ocupantes publicavam, em uma página oficial dos alunos na rede social Facebook, informações sobre a rotina do colégio, bem como onde agendavam as palestras e oficinas que seriam ministradas aos alunos por voluntários. A criação da página foi uma das primeiras ações do movimento na unidade, juntamente com a divisão dos trabalhos nas sete comissões.

A estudante Ana Gabriela Junkes*, 16 anos, diz que, no início da ocupação, havia duas assembleias diárias: uma pela manhã e outra à noite, ambas abertas a todos os alunos. A frequência das reuniões diminuiu com o decorrer das semanas. "Ninguém aqui tinha ocupado uma escola antes; então, as assembleias foram uma maneira de decidir o que seria feito para que nada de errado acontecesse. Depois disso, o pessoal se acostumou e algumas coisas deixaram de ser pauta de assembleia", explica.

A aluna Lyah Dannemann*, 17 anos, explica que a organização dos alunos visava à igualdade de gêneros, com atividades que tanto meninos quanto meninas poderiam desempenhar. "Aqui é um espaço comunitário, de desconstrução, onde não tem diferença entre homem e mulher. Tanto que menino faz limpeza e ajuda a preparar a comida, e menina faz a segurança – porque isso não é tarefa 'para homem' ou 'para mulher', mas de qualquer um", define a estudante.

Na cozinha, os estudantes receberam apoio de pais, professores e funcionários da escola. Lyah diz que a ajuda das merendeiras foi essencial.

O colégio também recebeu diversas aulas e oficinas voluntárias. Ana relata que cerca de quatro atividades diferentes eram realizadas a cada dia, entre 10h e 18h, e que poderiam ser assistidas por qualquer pessoa que entrasse no prédio. Houve, por exemplo, oficinas de temas ligados a história, química, física e até aulas de yoga, música e hip-hop.

Sexo, armas, drogas e bebidas eram proibidos

Havia regras e proibições nas dependências da escola sobre prática de sexo e uso de armas, drogas e bebidas. Já as obrigações diziam respeito, sobretudo, em relação à limpeza e à organização do espaço. Não houve objeção à mistura entre meninos e meninas nos dormitórios, uma vez observadas as ressalvas sobre prática sexual.

Entre as funções divididas logo que a ocupação começou, esteve a do controle de acesso ao prédio. Na recepção, ficaram alunos com listas em que o visitante, quando era permitida a entrada, tinha de informar data e área por onde iria transitar nas dependências do colégio.

Bolsas e mochilas também revistadas. "É uma maneira de a gente saber que aquela pessoa estava em determinado local, se alguma coisa der errado", explica o estudante Ronaldo Rocha*, 17 anos, que desempenhava a função na porta do colégio.

O CEP foi um dos últimos colégios a ser desocupados, na noite de 7 de novembro. Após a apresentação da liminar de reintegração de posse, cada 24h de ocupação custaria R$ 10 mil de multa de cada aluno, e consequentemente, dos pais.

*Nome fictício

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