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O DESCASO DO ENSINO PÚBLICO

Dados denunciam abismo entre
ensino público e privado

Por: Beatriz Mira

A educação tem sido foco de uma variedade de debates, fomentados pelas possíveis mudanças propostas na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 e na Medida Provisória (MP) 746/16, conhecida como reforma do Ensino Médio. Como pano de fundo da crise atual no modelo de ensino, está a disparidade entre o ensino público e privado.

As duas medidas propostas pelo Governo Federal têm sido os motivos principais para manifestações como greves dos professores de escolas públicas e ocupações promovidas por estudantes.

Entre as 100 primeiras escolas colocadas no ranking de notas da edição de 2015 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015, 97 são particulares, segundo dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No total, as escolas públicas representam 58% das instituições ranqueadas pelo governo; mas, entre os 100 primeiros lugares, somam apenas 0,3%.

Quatro escolas paranaenses ficaram entre as 100 melhores notas, todas privadas. Ainda segundo os dados do Inep, 96 escolas entre os 100 primeiros lugares no Paraná são particulares. Além destas, três são federais e uma estadual.

No primeiro semestre de 2015, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou a lista que ranqueia 76 países do mundo baseado na qualidade da educação. O Brasil ocupou o 60º lugar.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Alfa e Beto revela que apenas 10% dos alunos do Ensino Médio público brasileiro atingem um nível considerado "satisfatório", ao se formar. Os alunos que participaram da pesquisa foram avaliados pelo Instituto, precisando atingir no mínimo três pontos de cinco, a partir da seguinte lógica: três sendo considerado o "mínimo adequado para concluir o Ensino Médio". Segundo os resultados, 80% não estariam aptos a concluir a etapa.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (SINEPE), Jacir Venturi, o atual modelo de ensino brasileiro "é uma jabuticaba vencida que empurramos goela abaixo de nossos adolescentes". Ele descreve o ensino médio como a maior mazela da educação brasileira.

O presidente afirma que ainda existem muitas pontas soltas na MP 746/16 precisando de revisão, mas que, apesar das críticas, mudanças no ensino médio são urgentes. Para o professor, a PEC 241 é necessária para reestabelecer o equilíbrio das contas públicas e, ao contrário do que muitos pensam, esta não retira verbas da educação.

Venturi afirma que "ao matricular o filho numa escola privada, o pai é duplamente penalizado, pois os impostos que paga lhe daria direito a um bom ensino público e, não o tendo, tem de arcar com mensalidades".

 

APP diz que comparação não é possível

A secretaria educacional da APP Sindicato, Walkiria Mazeto, defende que não é possível comparar escolas públicas e privadas, pois as duas partem de parâmetros diferentes. Segundo ela, as escolas privadas selecionam os alunos enquanto as públicas trabalham com todos. "Não é que a qualidade da escola pública é pior, ela trabalha com públicos diferentes".

Walkiria explica que os alunos que têm condições de ingressarem em instituições particulares nascem em famílias que incentivam a cultura, incentivam a leitura, e já os colocam na escola desde cedo. Já na rede pública muitas vezes os alunos são de famílias que nunca estudaram.

Ela afirma que as duas redes possuem dificuldades estruturais, mas a maior no ensino público é a contratação de profissionais de certas áreas como filosofia, sociologia, física, química e matemática. A professora conta que devido à deficiência de docentes especializados, muitas vezes quem ministra estas aulas não está devidamente preparado.

O professor de sociologia Sandro Fernandes dá aulas tanto em escola particular, quanto municipal. "Escolhi ter as duas opções pois na privada não existe estabilidade nem um plano de carreira", comenta. Segundo ele, a grande diferença entre as duas escolas é: na pública o sucesso da instituição se deve ao envolvimento e comprometimento de alunos e professores, já na privada é possível saber qual é a melhor se baseando na mensalidade.

 

Estudantes possuem visões diferentes

 

A estudante Emyli Buachak, do 1º ano do Ensino Médio, conta que sempre estudou em escola pública e nunca percebeu grandes problemas na escola. Porém, ela e seus colegas sentem que há precariedade na estrutura do colégio para a realização de aulas práticas.

 

Em relação à valorização dos profissionais, Emyli afirma que os professores são muito desrespeitados pelos estudantes e também acredita que não há  valorização por parte do governo.

 

Apesar disso, a estudante de 15 anos comenta que pretende ser professora, mesmo sabendo que o salário será baixo e que terá que enfrentar diversas formas de desrespeito.

 

A estudante declara que os professores só orientam os alunos com relação a ocupações e movimentos, quando eles pedem. "Eles não nos influenciam", completa.

 

Ela acredita que o melhor de estudar em escola pública é que o aprendizado é diferente, por causa da convivência com diversos tipos de pessoas. É possível um estar sempre ajudando o outro, disse Emyli.

 

Entretanto, a aluna admite que o maior problema das escolas públicas é a estrutura que não é apropriada para receber tantos alunos e, também para as aulas praticas. Ela comenta que isso os prejudica no ensino, pois algumas atividades não são possíveis.

 

Já a estudante Marina Miotto, do 2º ano do Ensino médio, sempre estudou em escola particular. Ela conta que não há muito que reclamar da sua escola, principalmente na questão de estrutura.

 

Ela admitiu que não tem muito conhecimento sobre o que está acontecendo com o ensino público. Porém, segundo Marina, muitos estudantes que não sabem o porquê das ocupações e "simplesmente vão na onda".

Ela acredita que a educação é uma área de prioridade e que existem outras formas de resolver os problemas da educação, além das ocupações e greves.

Em relação à mudança prevista para o Ensino Médio, ela acredita ser bom. Já que há muitos assuntos que são dispensáveis dependendo do que o estudante quer fazer no futuro.

Movimentos sociais e operários usam a estratégia desde o início do século XX

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