top of page

Estudantes ocupam mais de mil

colégios e universidades pelo país

Paraná foi o epicentro do movimento, com 836 instituições ocupadas por alunos

Por: Luiz Guilherme Ribinski Bernardo

 

O ano de 2016 está marcado na história do Brasil como o ano no qual classe estudantil teve uma das maiores mobilizações de todos os tempos. As ocupações nas escolas e universidades, iniciadas no estado do Paraná, tiveram efeitos na ordem política do país, atraindo a atenção para o assunto.

Ao todo, mais de mil localidades, entre escolas, universidades e núcleos de educação foram ocupados, em 19 estados, incluindo o Distrito Federal. No Paraná, no ápice do movimento, 836 instituições estiveram ocupadas, sob coordenação do movimento Ocupa Paraná.

 

As principais reivindicações das pessoas envolvidas nos movimentos foram as suspensões da tramitação da Proposta de Emenda de Constituição (PEC) 55 (antiga 241), que estabelece limite para os gastos públicos, determinando o congelamento de investimentos em diversas áreas, incluindo educação e saúde; e da Medida Provisória (MP) 746, que determina a reforma do Ensino Médio.

Em 3 de outubro, depois de uma assembleia realizada pelos próprios estudantes, a primeira instituição foi tomada: cerca de 30 estudantes ocuparam o Colégio Padre Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais/PR.

Três dias depois, jovens de outras 30 escolas já haviam aderido o movimento, incluindo o maior colégio do estado, o Colégio Estadual do Paraná (CEP).

Estudantes organizaram aulas alternativas

Mesmo com as aulas curriculares paralisadas, diversas outras atividades foram realizadas para preencher os horários vagos: oficinas, discussões e aulas não convencionais fizeram parte da rotina dos estudantes. Professores secundaristas e universitários favoráveis ao movimento lecionaram aulas voluntariamente.

A estudante que participou da ocupação Cristiane Almeida (nome fictício) afirma que teve aulas e discussões que não seriam possíveis em dias normais de aula. "Tivemos aulas sobre gênero, machismo e de como a mídia se posiciona em relação a determinados assuntos. São tópicos atuais que precisam ser discutidos; e, sentados enfileirados, num dia normal de aula, acho que isso nunca iria acontecer”.

Os estudantes afirmam reiteradamente que não tiveram nenhum apoio político oculto e que o movimento foi legítimo e orgânico. Segundo os estudantes, eles só receberam apoio de pais e professores, com a entrega de comida, produtos de limpeza e de higiene. Além disso, rotineiramente representantes da OAB/PR (Ordem dos Advogados do Brasil) estiveram acompanhando as ocupações, para que, segundo eles, nenhum direito fosse violado.

A estudante do 1º ano do Ensino Médio no CEP Ana Gabriela, que ocupou o colégio, afirma que a ação foi uma resposta às recentes decisões do governo. "Nós queremos ser ouvidos. Estávamos fazendo manifestações na rua e víamos que não estavam tendo muito efeito; tínhamos que chamar a atenção do governo e da população em geral de alguma forma", explica.


Ocupações não receberam apoio da população

Apesar da magnitude, o movimento não recebeu amplo apoio popular, sendo, em diversas ocasiões, criticado por parte dos representantes executivos. O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), disse que o movimento estudantil teria sido motivado por ambições de partidos, movimentos políticos e sindicatos

Ele também chegou a afirma que, "se preciso fosse' usaria a força policial" para o cumprimento das decisões de reintegração de posse das escolas. O presidente Michel Temer (PMDB) também se posicionou contrariamente aos atos, dizendo que "as pessoas envolvidas não sabem a razão de estarem se manifestando".

A ambientalista Marli Rossi, 47 anos, estava em frente ao Instituto de Educação do Paraná acompanhando o cumprimento de uma decisão de reintegração de posse. Em meio aos gritos de ordem dos estudantes, Marli debochava e aplaudia ironicamente o último ato dos secundaristas na instituição. "Nós pagamos impostos para que esses vagabundos fiquem fazendo baderna? Essa manifestação é para que eles estudem artes e os afrodescendentes". Marli disse acreditar que nenhuma instituição de ensino pública tem qualidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Assassinato em escola chocou comunidade estudantil

Em 24 de outubro, Lucas Eduardo Araújo Mota, 16 anos, foi encontrado morto dentro do Colégio Estadual Santa Felicidade, em Curitiba. O adolescente teria sido assassinado por um colega, de 17 anos, supostamente motivado por uma discussão. Há relatos de que os dois estudantes teriam consumido drogas. Segundo a perícia, Lucas foi encontrado já sem vida com cortes na região cervical. A faca usada no crime foi encontrada no interior do colégio.

 

Logo após o caso, a escola foi desocupada e policiais civis entraram na instituição para que as investigações fossem iniciadas. O suspeito do crime foi  levado para a Delegacia do Adolescente e pode ser responsabilizado pela morte.

O governador Beto Richa emitiu uma nota se manifestando sobre o assunto. “A morte do estudante Lucas Eduardo Araújo Mota, de 16 anos, é uma tragédia chocante, que merece uma profunda reflexão de toda a sociedade. É ainda mais gravíssimo e lamentável, porque aconteceu no interior de uma escola ocupada, que deveria estar cumprindo a sua missão de irradiar a luz do conhecimento e a formação da cidadania.  Externo à família desse estudante a minha solidariedade neste momento tão doloroso. E renovo o meu apelo para que os pais redobrem o cuidado com seus filhos. Peço ainda, mais uma vez, que os estudantes encerrem esse movimento. A ocupação de escolas no Paraná ultrapassou os limites do bom senso e não encontra amparo na razão, pois o diálogo sobre a reforma do ensino médio está aberto, como bem sabem todos os envolvidos nessa questão. Que não se aleguem quaisquer justificativas para a continuidade desse movimento que vem causando prejuízos à educação do Paraná."

O Ministério Público do Paraná também se manifestou sobre o caso:  "O Ministério Público do Paraná esclarece que, desde as primeiras informações sobre a morte de um adolescente no interior do Colégio Estadual Santa Felicidade, na tarde desta segunda-feira, 24 de outubro, em Curitiba, dois promotores de Justiça foram designados pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar o caso. Felipe Lamarão de Paula Soares e Emiliano Antunes Motta Waltrick foram até a instituição de ensino para acompanhar as investigações com o intuito de garantir rigor e transparência à apuração do caso. Além disso, ressaltando-se que o Ministério Público do Paraná vem acompanhando, desde o princípio, o movimento de ocupação nas escolas, encontram-se reunidos, na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, procuradores e promotores de Justiça com atuação nas áreas de Educação, Direitos Humanos e Infância e Juventude, para traçar estratégias de intervenção institucional, visando à superação da situação que se apresenta."

O movimento Ocupa Paraná também emitiu nota sobre o assunto: "Recebemos hoje a triste notícia de que um estudante de apenas 16 anos foi morto em uma escola ocupada no Paraná, a notícia foi recebida com muita tristeza por todos aqueles que lutam por uma educação pública de qualidade no Brasil. Lucas Eduardo, mesmo não sendo um dos estudantes que ocupavam a escola é também vítima de um sistema que oprime e que não corresponde aos anseios da juventude. Apesar das diversas correntes de ódio que tomaram conta do estado no dia de hoje, nós do movimento Ocupa Paraná não queremos e nem vamos culpabilizar ninguém pelo acontecido. Neste momento queremos apenas prestar solidariedade à família de Lucas, família que perde um dos seus para o ódio, para a intolerância e para a violência. Convocamos todos os estudantes do Paraná, lutadores pela educação e comunidade a realizarem atos em solidariedade à família Lucas e em Vigília contra a violência que vem sendo propagada contra as escolas e orientamos todos para que nesse momento reforcem suas energias por esse garoto de apenas 16 anos que pagou todo o ódio propagado com sua vida dentro de um local marcado pela luta dos estudantes paranaenses. Podem matar uma flor, mas jamais poderão deter a primavera, Seguimos em paz e unidos."

Enem é prorrogado para dezembro em algumas escolas

O Ministério da Educação (MEC) deu o prazo de até o dia 31 de outubro para que todas as instituições de ensino fossem desocupadas, e, se a ordem fosse descumprida, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) iria ser cancelado nestas localidades.

Ao todo, 364 escolas em 139 cidades espalhadas por 19 Estados farão o exame no mês de dezembro, nos dias 3 e 4. Exatos 273.521 estudantes serão remanejados para outros locais de prova.

Confira abaixo um mapa com as escolas que foram afetadas pelo cancelamento do Enem em Curitiba.

O ALCANCE DAS OCUPAÇÕES

bottom of page